O texto de hoje é caraterizado pela
compaixão, pois tudo nasce de um sentimento espontâneo de Jesus como
Homem, mas também como o Senhor da vida. Não é um pedido, não é
exigência de fé, é o Senhor que tem compaixão dos órfãos e faz justiça
às viúvas. De repente, Ele levanta a voz para a viúva e lhe diz: “Não
chores!”
O Autor da vida usa o verbo no presente
do imperativo para dizer que aquela mãe deve parar de chorar, uma vez
que não existirá mais motivo para esse lamento e dor. Quem tem Jesus
deixa de sofrer a morte, e os sofrimentos do tempo presente não têm nada
a ver com a glória que se há de revelar no final dos tempos, “quando tudo se consumar em todos”, dirá São Paulo. Portanto, trata-se de uma palavra de consolação que prepara uma intervenção, a qual evitará a causa do pranto.
“E então tendo-se adiantado, tocou o
caixão. Os portadores param e Ele diz: ‘Jovem, a ti digo: levanta-te’. E
ergueu-se o morto e começou a falar e Jesus o entregou à sua mãe”.
A ordem de Jesus é imperiosa e
contundente. O verbo é imperativo passivo, o qual podemos traduzir por
impessoal ou reflexivo. Jesus era Senhor dos mortos e estes Lhe obedecem
assim como as forças da natureza. “Quem é este a quem os ventos e o mar obedecem?” O morto ergueu-se e começou a falar. O alento da vida se expressa, de novo, por meio da fala.
Jesus tomou o jovem pela mão e o levou
até a mãe que não podia acreditar no que seus olhos estavam vendo. No
ato há uma reminiscência da atitude de Elias quando, ressuscitado o
filho, desceu até o andar térreo para entregá-lo à sua mãe viúva. Além
de ser o Senhor da vida, Jesus atua como uma cópia de Elias, o antigo
profeta, restaurador do verdadeiro culto divino a Javé entre os
israelitas. Por isso, a exclamação dos presentes: “Um grande profeta há
surgido! Deus visitou o seu povo!” E a fama de Jesus se espalhava por
toda a parte.
Num mundo como o atual, em que a ausência
do Deus criador entrega ao homem o direito de sua vida e até a
faculdade de outras vidas sob seu domínio, como no caso dos fetos
maternos, é bom refletir sobre este milagre de Jesus. A vida depende de
quem a pode dar, não de quem a quer tirar. Destruir é fácil; porém, isso
não implica direito, mas força; justiça, mas violência. O verdadeiro
poder tem como base a construção do bem, da saúde e da cura. O médico
cura, o criminoso mata; aí está a diferença.
Jamais Jesus destruiu um inimigo ou
ameaçou um rival: “Quem soube recriminar discípulos que queriam botar
fogo sobre os que não queriam hospedá-los (cf. Lc 9,54), chorou sobre
Jerusalém, prevendo sua destruição (cf. Lc 19,41) e advertiu as mulheres
que se compadeciam da sina fatal de seus filhos (cf. Lc 23,28)? Quem
sempre usou Seu poder e Sua autoridade para fazer o bem (At 10,38)? Quem
usou Sua autoridade moral para pedir perdão para os inimigos e fazer o
bem aos Seus perseguidores (Lc 6, 27)? Deriva-se desta conduta uma
teologia que tem como base a revolução e a luta pela justiça, a qual
considera inimigos e opressores os mais favorecidos e oprimidos e com
direito à retaliação os mais desprotegidos?
No episódio de hoje, vemos como Jesus
atua sem ser pedido, unicamente pela Sua compaixão como ser humano. Ter
piedade dos que sofrem é um exercício aprovado pela atuação de Jesus até
tal ponto que opera um milagre com poderes fora do comum. Oxalá esta
seja a nossa atitude perante os nossos irmãos!
Padre Bantu Mendonça
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