Já tramita no Senado o projeto de
reforma do Código Penal Brasileiro. A proposta foi entregue à casa em
junho deste ano e agora está na fase de análise das emendas. Porém, o
teor dessas análises pouco tem sido discutido entre a população, uma vez
que, no Brasil, grande parte das atenções está voltada para o período
eleitoral.
O projeto de reforma do Código contém aspectos polêmicos,
como a proposta de aumentar os casos de permissividade do aborto.
Quanto a isso, o doutor em Direito e presidente da União dos Juristas
Católicos de São Paulo (Ujucasp), Ives Gandra Martins, informou que o
Código está numa fase de apresentação de emendas e que o grupo de
juristas católicos vem tentando combater tais questões.
“Nós
mesmos pela União dos Juristas Católicos de São Paulo, apresentamos,
junto com os juristas do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, diversas
emendas através da senadora Maria do Carmo Alves. Nelas, temos combatido
o problema do aborto, da eutanásia e da descriminalização das drogas”.
Para
Gandra, a condução dos debates acerca desses temas deve envolver forte
pressão junto aos senadores para que eles não aprovem estes pontos.
Embora
já esteja em análise há três meses, o doutor em direito destacou que há
muitas contradições em meio às propostas. Ele acredita que a aprovação
da matéria não deve acontecer ainda este ano.
“É um Código cheio
de evidentes contradições e tudo isso nós pusemos e a senadora Maria do
Carmo Alves já levou para o Senado. Agora está em compasso de serem
discutidos. Deverá, certamente, ter audiências públicas e a impressão
que eu tenho é que a matéria vai ficar para o ano que vem”.
Uma
dessas contradições, segundo Gandra, é o tratamento diferenciado que se
pretende dar ao abandono de animais e à questão do aborto. Enquanto para
o primeiro caso estão previstas penalidades, não serão punidos alguns
casos de aborto, por exemplo.
“O tratamento dos animais também é
um tratamento que será feito com penalidades a quem abandonar animais e
quem destruir embriões ou ovos de tartaruga, mas quem destruir seres
humanos no ventre materno, esse não terá pena nenhuma”.
Todas
essas propostas devem ser analisadas de acordo com o seguinte
cronograma: de 9 de agosto a 5 de setembro, apresentação de emendas; de 6
a 20 de setembro, relatórios parciais; de 21 a 27 de setembro,
relatório do Relator Geral; de 28 de setembro a 4 de outubro, parecer
final da Comissão.
Porém, estes prazos têm sido alvo de críticas. O Cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, em artigo de sua autoria, indagou se este não é um assunto para ser resolvido com mais calma.
Gandra
destacou que o Código tem inúmeros dispositivos e por isso deve ser
muito discutido, principalmente com o povo, e não “pretender a aprovação
a ‘toque de caixa’”. Ele têm dúvidas quanto ao real cumprimento desse
cronograma.
“Esses prazos deverão não ser cumpridos, porque não
há como cumpri-los. O Senado vai começar a se reunir após as eleições
municipais. No momento, poucos senadores estão comparecendo. As emendas
já foram apresentadas, mas eu duvido que isso possa ser aprovado ainda
esse ano”.
As discussões das propostas não restringem-se ao
âmbito político, sendo levada em consideração também a participação
popular. Porém, o doutor em Direito acredita que o fato das atenções
estarem voltadas para a eleição próxima, em 7 de outubro, possivelmente
atravancou a participação do povo nas questões referente ao Código.
“Pode
ser, porque se conversa-se com o pessoal, poucos sabem o que contém o
Código Penal. (...) o receio que eu tenho é de que o povo em si, a quem o
Código Penal será aplicado, este povo não sabe o que seus
representantes estão aprovando”.
Como próximos passos, Gandra
informou que deve ser ser criada uma comissão especial para examinar as
emendas apresentadas. Depois, essas emendas serão levadas a plenário e
julgadas.
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