Brasília
– As posições expressadas pelo Brasil frente ao Conselho de Direitos
Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) em relação ao conceito de
família, à educação religiosa e ao incentivo das chamadas unidades de
Polícia Pacificadora (UPPs) são alvo de críticas da organização não
governamental (ONG) Justiça Global.
Em nota divulgada a instituição, que atua na defesa de direitos humanos junto a organismos internacionais, se
colocou contrária à posição do Vaticano, acatada pelo Brasil, que
identifica a ‘família natural e o matrimônio, formado por um marido e
uma mulher, como a unidade básica da sociedade que provê as melhores
condições para educar as crianças’.
O
Brasil apresentou apoio parcial à recomendação do Vaticano, ponderando
que as ‘instituições brasileiras reconhecem outras formas de arranjo
familiar também dignas de proteção, como a criação de uma criança por
uma mulher sozinha’.
Na
opinião da Justiça Global, essa posição não é suficiente e a posição do
Vaticano deveria ter sido rejeitada integralmente pelo Brasil. ‘A
colocação do Vaticano claramente não se dirigia à família monoparental,
mas sim às uniões entre pessoas do mesmo sexo e outros modelos de
família que não fossem de base heteronormativa’, diz a nota.
A
Justiça Global disse também que o Estado brasileiro ‘tem ignorado
sistematicamente o direito à consulta prévia dos povos tradicionais’.
Das
170 recomendações que o Brasil recebeu na sabatina a que foi submetido
pelo Conselho de Direitos Humanos, o Estado brasileiro acatou 159.
Ontem, a representante brasileira no órgão, embaixadora Maria Nazareth
Farani Azevêdo, anunciou a posição perante o conselho.
Outra
crítica da Justiça Global refere-se à proposta feita pela Namíbia, que
pede ao país que continue o programa de educação religiosa nas escolas
públicas. ‘Um estudo realizado pela Universidade de Brasília [UnB] em
2010 e publicado no livro Laicidade e Ensino Religioso no Brasil aponta
para a predominância da homofobia e desrespeito frente às religiões não
cristãs nos livros didáticos de ensino religioso nas escolas públicas
brasileiras’, cita o documento.
A
proposta de incentivo às UPPs, que hoje existem no Rio de Janeiro, foi
feita pela Austrália, que recomendou a instalação dessas unidades em
todos os estados brasileiros. Para a Justiça Global, a medida incentiva a
‘militarização do cotidiano das comunidades pobres’.
‘A
proposta brasileira se baseia na
ocupação militar e instalação de uma unidade de polícia permanente nos
territórios pobres. A polícia passa a regular o cotidiano das pessoas,
muitas vezes na base da força e coerção. São inúmeras as denúncias de
violações de direitos em comunidades com UPP, desde ameaças verbais até a
violação da vida por parte dos policiais militares’, enfatiza o
document
O
Ministério das Relações Exteriores informou, por meio da assessoria de
imprensa, que não irá se pronunciar sobre a posição da ONG. De acordo
com o Itamaraty, o governo já expressou a opinião do Estado brasileiro
por intermédio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República.
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