Jesus se encontrava no meio de conflitos que a Sua prática provocava.
Então, os chefes dos judeus enviam uma delegação para investigar e
“bisbilhotar” a vida pessoal de Jesus. A intenção dos fariseus e
doutores da Lei era ver se Ele transgredia a Lei e a tradição, ou seja,
se transgredia a Torá e as inúmeras prescrições orais, pois ambas tinham
o mesmo valor – visto que provinham de Deus – e mexer no aparato legal
era opor-se a Deus ou querer igualar-se a Ele.
O problema em discussão era sobre o lavar ou não as mãos conforme
Levítico 15,11. Quem não lavava as mãos antes de comer desrespeitava as
tradições, pois tudo o que era comprado no mercado devia ser purificado
na hipótese de ter sido contagiado por uma pessoa ritualmente impura.
Antes fosse assim, para evitar doenças contagiosas como as que
enfrentamos em nossos dias. Mas não. A tradição judaica tinha barreiras e
preconceitos em relação aos pagãos, que eram suspeitos de impureza. E,
por falta de lógica divina nestes rituais, Jesus quebra a barreira
citando Isaías 29,13 e chamando os doutores da Lei de hipócritas.
A resposta de Jesus é abrangente, descaracterizando o mérito das leis
de pureza e das demais tradições opressoras. Dirige-se à multidão e
pede que ouça e entenda. E explica que a impureza não está nos objetos e
nas pessoas, mas é uma consequência das opções de vida das pessoas, e
vem do coração. Logo em seguida, faz uma lista do que traz a verdadeira
impureza aos homens: más intenções, imoralidades, roubos, assassinatos,
adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja,
calúnia, orgulho e falta de juízo.
No Evangelho deste 22º Domingo do Tempo Comum, somos convidados a
tomar consciência de que algumas práticas sobre a higiene são
importantes, mas não mudam a natureza do homem. Veja por exemplo: hoje
cães e gatos são tratados com todas as normas de higiene, vão aos salões
de beleza, são levados aos parques de diversão e… não mudam de
natureza.
Não é o “shampoo” ou o “desodorante” que purificam o homem, como
apregoava o costume farisaico e, hoje, o faz a publicidade comercial e
nossa sociedade consumista. Ter mãos limpas não significa ter um coração
limpo. Um grande sorriso pode muito bem esconder uma antipatia.
Palavras bonitas, muitas vezes, buscam somente reconhecimento e
aplausos. A maioria dos nossos políticos tem uma linguagem cheia de
demagogia, que não expressa o que sentem e fazem.
É preciso que acolhamos com muita atenção as palavras de exortação de
São Tiago (Segunda Leitura). Não basta só ouvir a Palavra do Senhor,
mas é fundamental colocá-la em prática, para não nos iludirmos e
deixarmos a Palavra correr em nossas veias. A hipocrisia estava em
apenas ouvir a Palavra e não praticá-la: “um povo que louva a Deus com os lábios, mas tem o coração distante Dele”.
Jesus denuncia a manipulação da Palavra de Deus pelos fariseus e afasta
o formalismo exterior da religião judaica. Não vai contra a Lei de
Moisés nem contra a tradição autêntica, mas denuncia a hipocrisia. De
fato, os fariseus denunciam os discípulos porque não lavam as mãos antes
das refeições, segundo uma tradição rabínica do Talmude.
As abluções não existiam por simples motivos higiênicos, mas porque
eram símbolos da pureza moral, necessária para se aproximar de Deus.
Porém, os fariseus viam somente o lado externo da aproximação de Deus,
não levando em consideração o Salmo 23,3-4: “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará em seu lugar? Quem tem mãos inocentes e coração puro”.
A pureza de coração era a condição para participar do culto e ver o
rosto de Deus. A pureza deve começar pelo coração, como afirma o Salmo
23, pois é dele que procedem as coisas más.
O coração do homem continua sentindo os mesmos impulsos de impureza,
como egoísmo, intenções desvirtuadas, a degradação do amor humano e uma
“avalanche” de impureza e sensualidade. Hoje campeia, sobretudo, a
obscenidade. Obsceno é uma palavra que vem do antigo texto grego e
romano e significava aquilo que, por respeito aos espectadores, não
devia ser representado em cena por pertencer à intimidade pessoal. Mesmo
aquela civilização pagã, que tinha normas morais relaxadas, entendia
que certas coisas não deviam ser feitas diante de outras pessoas.
Senhor Jesus, não permita que eu me iluda buscando uma pureza
exterior, quando a que Lhe agrada é a que provém do meu interior. Amém.
Padre Bantu Mendonça
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