Estamos, hoje, exatamente no “coração” do
Evangelho de Marcos. Novamente, aparece o tema da identidade de Jesus:
Cristo, o Filho de Deus. Ele tem uma identidade rica e misteriosa, que,
desde o início ao fim, o evangelista quer revelar, gradualmente, a
todos nós.
O texto de hoje, no capítulo oito, contém
a resposta radiante de Pedro que se destaca das opiniões correntes
entre as pessoas. As grandes figuras religiosas do passado são
superadas, visto que Jesus de Nazaré é o Messias, o Cristo. Na sua
simplicidade e brevidade, Marcos condensa a revelação do Mestre nas
palavras de Pedro: «Tu és o Messias».
Para Marcos, Jesus entrou numa etapa
nova: deixa as multidões da Galileia para dedicar mais tempo à formação
dos Seus discípulos e começa com a revelação da Sua dupla identidade de
Messias e de Servo sofredor. Duas realidades inalcançáveis pela mente
humana por si mesma.
Pedro, com dificuldade, consegue colher a
verdade de Jesus Messias-Cristo, mas tropeça totalmente na realidade do
Messias-Servo que “devia sofrer muito… ser morto e ressuscitar”. O
discípulo se arma, inclusive, em “mestre” de Jesus, repreende-o por
aquele tipo de discurso, a ponto de Jesus o censurar duramente,
convidando-o a tomar o lugar que lhe compete atrás de Jesus: o discípulo
caminha atrás do Mestre, segue os Seus passos.
Sobre o tema do sofrimento e da cruz,
Pedro é prisioneiro da mentalidade corrente, pensa “segundo os homens”;
só mais tarde, quando vier o Espírito, chegará a pensar “segundo Deus”.
“Tu não compreendes segundo Deus, mas
segundo os homens”: é a advertência severa de Jesus a Pedro e aos
discípulos de então e de todos os tempos. Uma advertência que petrifica
qualquer forma de religiosidade acomodada e retórica. Um convite
desconcertante a percorrer o caminho estreito da humildade e da
austeridade: deixar de pensar apenas em si mesmo, tornar-se responsável
pelos outros, partilhar a opção de Jesus que aceitou – por amor – a
própria morte, para que todos “tenham a vida em abundância” (Jo 10,10).
Nós somos chamados ao discipulado e à
missão. Mas isso só será possível se, como Pedro, reconhecermos e
compreendermos a verdadeira identidade de Jesus. Ele nos propõe as
“coisas de Deus”, a comunicação da vida sem limites. Não podemos nos
ater às “coisas dos homens” à exemplo de Pedro, à preservação do poder e
à paz da ordem iníqua estabelecida.
Jesus está nos chamando e nos
apresentando a proposta de Seu seguimento. A vida de cada um, ao ser
doada em comunhão com outras vidas em ações concretas nos alcançará a
salvação, isto é, se insere e permanece no seio de Deus, na eternidade.
Senhor Jesus, revela-me sempre mais Sua face de Messias-Servo, para que eu não me engane no caminho do Seu seguimento.
Padre Bantu Mendonça
Nenhum comentário:
Postar um comentário