A Semana da Vida discutiu, ao
longo destes último sete dias, questões relacionadas à vida humana,
enfatizando o seu verdadeiro sentido, os riscos que a ameaçam e o que
fazer para driblar estas situações. Mas não só a vida deve ser vivida
com dignidade. A Igreja defende que a morte também é um estágio da vida
humana que merece respeito e uma boa vivência.
Para frei Antônio
Moser, a vida não tem etapas, mas é um processo que se desenvolve. Ao se
aproximar dos 60 anos, idade de aproximadamente 22 milhões de
brasileiros, a pessoa tem algumas perdas, mas também alguns ganhos.
A
prática de exercícios violentos ou que exigem muito esforço tornam-se
menos possíveis nessa idade. Em contrapartida, o homem ganha serenidade,
valores, reconhece a importância de se dar mais atenção à família do
que aos bens materiais. “A pessoa, no entardecer, vai olhando o mundo e a
sua vida de um modo diferente”, afirma o frei.
No entanto, é uma
realidade de muitas pessoas a dificuldade em lidar com o
envelhecimento, o apavoramento com a chegada da idade avançada e o medo
de ser deixado de lado. Outras, ao contrário, dão graças a Deus pelo
entardecer da vida e vivem essa fase como a melhor idade.
Frei
Moser acredita que a terceira idade hoje é um termo um pouco ambíguo. No
fundo, a partir de uma compreensão antropológica e teológica do ser
humano, nessa idade é como se o ser humano atingisse o topo de uma
montanha.
“A criança está lá embaixo, o horizonte dela é
pequenino; o adolescente tem um horizonte um pouco mais amplo; a pessoa
chamada adulta, mais amplo; agora quem tem um panorama enorme pela
frente é justamente a pessoa na terceira idade”.
Mas o tempo que
se vive não implica em uma melhor ou pior vivência neste mundo. “Tem
gente que vive muito e que não deixa marca alguma ou deixa marca
negativa. Tem pessoas que vivem pouco, mas vivem intensamente”.
Como
exemplos, frei Moser lembrou São Francisco de Assis, celebrado pela
Igreja católica no último dia 4, que morreu aos 46 anos. Ele também
citou os exemplos de Santo Antônio, que morreu aos 36 anos, Santa
Terezinha, aos 24 e São Domingos Sávio, que faleceu com apenas 15 anos.
“A vida tem que ser intensa. Não existe velhice, o que existe é
um bom entardecer e um entardecer que não é tão sereno e é mais
sombrio. Depende de muitas circunstâncias”.
Interrupção no ciclo natural
Nem sempre a vida humana consegue seguir seu curso natural. Hoje, uma das práticas que gera polêmica é justamente a eutanásia.
De
acordo com Frei Moser, de início, eutanásia significava ajudar a pessoa
a fazer a passagem natural, aliviar a dor, dar conforto espiritual.
Depois, sobretudo durante a guerra, na época de Hitler, o conceito mudou
e hoje tem um entendimento negativo.
Frei Moser enfatizou que
abreviar a vida de alguém, como prevê a eutanásia, é algo que a Igreja
sempre condenou e sempre vai condenar. Outra questão condenável é não
deixar a pessoa morrer, mesmo quando não há perspectiva alguma de vida,
ao que se chama distanásia.
O que se defende é o respeito ao
processo natural, ou seja, a ortotanásia, que significa nem apressar e
nem retardar a morte. Nesta posição, são mantidos os chamados meios
ordinários, que seriam os medicamentos, a alimentação, o cuidado, o
carinho.
“(Manter) O que é comum, que está ao alcance da mão,
não representa um prolongamento artificial da vida, mas, por outro lado,
não abandona o paciente, sobretudo em questão de doença, de higiene, de
alimentação”.
Morrer com dignidade
Embora
sendo motivo de medo e agonia para muitos, Frei Moser defende que este
pavor que se tem com relação à morte é algo negativo. Ele acredita que a
sociedade tem que aprender a conviver com a morte.
“Uma pessoa
sábia sabe que vai morrer. Você tem que se conscientizar de que a vida é
curta, não com medo, mas se preparando no bom sentido da palavra,
fazendo o bem como Jesus, que viveu 33 anos e passou pela vida fazendo o
bem, isso é o que importa”.
Tendo se preparado, o que resta é
respeitar a trajetória da vida. Este respeito é, para Frei Moser, o
significado de um “morrer com dignidade”.
“O morrer com dignidade
significa respeitar a trajetória da vida. É aquela (morte) em que a
gente dá aquilo que é necessário para aliviar as dores e, sobretudo, uma
perspectiva para a pessoa, sabendo que essa vida é um corte, mas por
outro lado abre as portas para a eternidade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário