Quando Jesus saía com os seus discípulos, a
caminho de Jerusalém, apareceu um jovem que se ajoelhou diante d’Ele e
lhe perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” O
Senhor indica-lhe os Mandamentos como caminho seguro e necessário para
alcançar a salvação. O jovem, com grande simplicidade, respondeu-lhe que
os cumpria desde a infância. Então Jesus, que conhecia a pureza daquele
coração e o fundo de generosidade e de entrega que existe em cada homem
e em cada mulher, “olhou para ele com amor” e convidou-o a segui-Lo,
pondo à parte tudo o que possuía.
Como
gostaríamos de contemplar esse olhar de Jesus! Umas vezes, imperioso;
outras, de pena e de tristeza, por exemplo ao ver a incredulidade dos
fariseus (Mc 2,5); outras, de compaixão, como à entrada de Naim, quando
passou o enterro do filho da viúva (Lc 7,13). É esse olhar que comunica
uma força persuasiva às palavras com que convida Mateus a deixar tudo e
segui-Lo (Mt 9,9); ou com que se faz convidar a casa de Zaqueu,
levando-o à conversão (Lc 19,5).
Mas o jovem prefere a “segurança” da riqueza e recusa o convite de Jesus!
Ao
recusar o convite, diz o Evangelho:” quando ele ouvir isso, ficou
abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (Mc
10,22). “A tristeza deste jovem deve fazer-nos refletir. Podemos ter a
tentação de pensar que possuir muitas coisas, muitos bens neste mundo,
pode fazer-nos felizes. E no entanto, vemos no caso deste jovem do
Evangelho que as muitas riquezas se converteram em obstáculo para
aceitar o chamamento de Jesus. Não estava disposto a dizer Sim a Jesus e
não a si próprio, a dizer Sim ao amor e não á fuga!O amor verdadeiro é exigente.
O amor exige esforço e compromisso pessoal para cumprir a vontade de
Deus. Significa disciplina e sacrifício, mas significa também alegria e
realização humana. Não tenhais medo a um esforço honesto e a um trabalho
honesto; não tenhais medo à verdade. Queridos jovens, com a ajuda de
Cristo e através da oração, vós podeis responder ao Seu chamamento,
resistindo às tentações, aos entusiasmos passageiros e a toda a forma de
manipulação de massas.
Segui a
Cristo! Vós, esposos, tornai-vos participantes reciprocamente, do vosso
amor e das vossas cargas, respeitai a dignidade humana do vosso cônjuge;
aceitai com alegria a vida que Deus vos confia; tornai estável e seguro
o vosso matrimônio por amor aos vossos filhos.
Segui a Cristo! Vós solteiros ou que estais a preparar para o matrimônio! Em nome de Cristo estendo a todos vós o chamamento, o convite, a vocação: Vem e segue-Me” (Beato João Paulo II).
A
reflexão da passagem bíblica sobre o jovem rico leva-nos a entender o
uso dos bens materiais. Jesus não os condena por si mesmos; são meios
que Deus pôs à disposição do homem para o seu desenvolvimento em
sociedade com os outros. O apego indevido a eles é o que faz que se
convertam em ocasião pecaminosa. O pecado consiste em “confiar” neles,
como solução única da vida, voltando as costas à divina Providência. São
Paulo diz que a ganância é uma idolatria (Cl 3,5). Cristo exclui do
Reino de Deus a quem cai nesse apego às riquezas, constituindo-as em
centro da sua vida, ou melhor disto, ele mesmo se exclui.
Quem é esse jovem do Evangelho? Posso ser eu. Pode ser você…
São muitas pessoas que observam os Mandamentos e até desejariam fazer
mais… Mas quando Deus pede algo mais… se retiram tristes, porque estão
apegadas a muitas coisas, que amaram o seu coração e impedem de dar esse
passo a mais. As vezes são medíocres, querem ficar satisfeitas apenas
com o mínimo necessário!…
Cristo nos
dirige, ainda hoje, o mesmo convite: “Vai e vende tudo o que tens e dá
aos pobres… e depois, vem e segue-Me.” Todos nós temos alguma coisa para
“vender”… Quais são as “riquezas”, de que
devemos nos desfazer para esse algo mais e que tornam o nosso coração
materializado e insensível às coisas de Deus?
Cristo continua nos olhando com amor! Com esforço devemos seguir o Mestre.
“Neste esforço de identificação com Cristo, costumo distinguir como que
quatro degraus: procurá-Lo, encontrá-Lo, tratá-Lo, amá-Lo. Talvez vos
sintais como que na primeira etapa. Procurai o Senhor com fome,
procurai-O em vós mesmo com todas as forças. Atuando com este empenho,
atrevo-me a garantir que já O tereis encontrado, e que tereis começado a
tratá-Lo e a amá-Lo” (São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, nº 300).
Mons. José Maria Pereira
Diocese de Petrópolis-RJ
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