Lucas narra que Jesus envia um novo grupo: o dos 72 discípulos. Eles
são enviados “na frente” do Senhor, como precursores, como preparadores
da chegada do Reino de Deus. O número 72 é simbólico e indica a
universalidade da missão: o número 72 é múltiplo de 12 para representar a
totalidade do povo de Deus.
A missão, portanto, não é uma tarefa somente de alguns, do grupo dos
Doze, mas uma obra também dos leigos, ou seja, de todos os cristãos.
Assim, a missão é universal desde a sua origem e compreende todos. O
texto especifica que Jesus envia “dois a dois”, pois o anúncio do
Evangelho não é uma tarefa pessoal, mas de uma comunidade. O fato de
serem enviados “dois a dois” também quer mostrar a credibilidade do
testemunho, além do fato do encorajamento que um pode dar ao outro no
caso de desânimo diante das dificuldades.
Jesus, depois de ter falado em semente e em arado, fala agora de
colheita. Esta última, por sua vez, é imensa. Mas os trabalhadores
disponíveis são poucos. Ontem e hoje vivemos a mesma situação. É um
trabalho gigantesco e nunca haverá trabalhadores suficientes; só o Pai
pode chamá-los e enviá-los. Assim, é necessário rezar a Ele, pedindo que
chame mais pessoas. É justamente por causa da extensão da missão que
Jesus chama mais este grupo de ajudantes e, mesmo assim, são poucos
diante da imensidão da missão que Ele tem pela frente e da qual nos
torna participantes.
Jesus faz o envio: “Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos”.
É a imagem clássica da fraqueza diante da violência. A missão é uma
obra difícil e perigosa. Aqueles que Ele enviou devem cumprir fielmente o
seu trabalho, mas não devem exigir demasiado de si mesmos nem entrar em
pânico diante da grandeza da missão. Devem, sim, ter consciência que
não será uma tarefa fácil e que nem sempre serão recebidos “de braços
abertos”. Devem fazer sua parte com competência e perseverança, pois, em
último caso, a responsabilidade é de Deus; e Ele não deixará cair em
ruínas a sua messe, mandando trabalhadores necessários para isto.
A mensagem a ser levada é o dom da paz – no sentido mais completo – às pessoas e às famílias e, sobretudo, a mensagem de que “o Reino de Deus está próximo de vós”. O Reino de Deus é, antes de tudo, uma pessoa: Jesus. Quem O acolhe encontra a vida, a alegria e a missão de anunciá-Lo.
O gesto de “bater, sacudir a poeira dos pés”, era um gesto simbólico
dos israelitas que, ao ingressar de novo no próprio país, depois de
terem estado em território pagão, não queriam ter nada em comum com o
modo de vida deles. Libertar-se da poeira que se grudou aos pés enquanto
estavam em território pagão significava ruptura total com aquele
sistema de vida. Fazendo isso, os discípulos transferem toda a
responsabilidade pela rejeição da Palavra àqueles que os acolheram mal e
rejeitaram o anúncio do Evangelho. E a paz oferecida não se perde, mas
volta a quem oferece.
O estilo da missão de Jesus e dos discípulos é o oposto daquele dos
poderosos que o mundo de hoje idolatra. Não se baseia sobre a vontade de
dominar, a arrogância ou a ambição, mas sobre a proposta humilde,
respeitosa, atenta aos mais fracos, oferecida na gratuidade, sem buscar
outras recompensas. O Evangelho de Jesus é uma mensagem de vida
verdadeira para quem confia somente em Deus, que é Pai e também Mãe: “como uma mãe que acaricia o filho, assim eu vos consolarei” e em Cristo crucificado e ressuscitado.
Os 72 discípulos tinham uma tarefa nova e difícil. Mas estes voltam
para Jesus muito contentes porque ficaram impressionados pelos prodígios
que puderam ver. Jesus freia um pouco esta alegria e diz: “antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu”.
Como podemos nós, discípulos de Jesus, seguir nossa missão em meio
aos lobos do tempo atual? A missão é mais forte do que o medo. Às vezes,
somos tomados por pensamentos negativos, tipo: “O que vão pensar?” ou
“O que vão dizer?”. É humano sentir medo, mas a missão deve superar os
nossos temores. Nenhum profissional tem medo de falar de sua profissão.
Então, por que deveríamos nós, cristãos, ter medo de falar de Cristo, da
Sua Pessoa, da Sua verdade, da Sua vida, do Seu amor, do Seu mistério?
A fé e a missão começam no coração e devem terminar nos lábios e nas
ações. Não podemos deixar que o receio atrapalhe a nossa missão cristã.
Pai, que a perspectiva de dificuldades a serem encontradas no
apostolado não me faça recuar da missão de preparar o mundo para acolher
Seu Filho Jesus.
Padre Bantu Mendonça
Nenhum comentário:
Postar um comentário