O Papa Bento XVI convocou a 13ª
Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos para o período de 7 a 28
de outubro, em Roma. No final de junho, o Vaticano publicou, o Instrumentum Laboris,
documento de trabalho sobre o Sínodo. A reportagem do jornal
arquidiocesano O São Paulo conversou com o teólogo Francisco Catão,
professor da Escola Dominicana de Teologia e do Instituto Teológico Pio
XI, sobre a importância do documento e como ele se apresenta.
O
SÃO PAULO – A Secretaria do Sínodo divulgou no final de junho o
documento de trabalho da próxima Assembleia Geral do Sínodo, convocado
para o próximo dia 7 de outubro. Qual a significação desse documento?
Professor Francisco Catão –
Trata-se da 13ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos,
organismo da administração romana, criado no Vaticano II, para exprimir a
participação dos bispos no governo da Igreja Católica. É a
colegialidade, reconhecida e proclamada pelo Vaticano II. No seu
regulamento, o Sínodo dos Bispos se reúne por convocação do Papa,
regular ou extraordinariamente, em assembleias. O Papa indica o tema
geral a ser discutido. A Secretaria do Sínodo faz uma ampla consulta a
toda a Igreja, a partir da qual elabora o documento de trabalho, que
contém além dos pontos a serem tratados, a linha geral que se depreende
das expectativas de toda a Igreja.
O SÃO PAULO – O que o senhor acha do tema da próxima assembleia?
Professor Catão –
Como sabemos, o tema indicado por Bento XVI é “A nova evangelização e a
transmissão da fé católica”. O conceito de nova evangelização perpassa o
ensinamento de João Paulo II e foi assumido por Bento XVI como objeto
de importante aprofundamento teológico: exprime o papel preponderante de
“A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”, tema da 12ª
Assembleia por ele convocada, em 2008. A Exortação Apostólica que tratou
das proposições votadas nesta assembleia, a Verbum Domini, em
2010, abriu o caminho para se pensar a missão da Igreja no mundo à luz
do testemunho da Palavra de Deus, Jesus Cristo, na sua vida e no seu
ministério.
Essa forma renovada de encarar a Igreja, herdada do
Vaticano II, remonta ao tempo dos apóstolos e nos leva a reencetar sua
grande missão de evangelizar todas as criaturas, para lhes transmitir a
fé. Daí a profundidade teológica do conceito de “nova evangelização” e
sua amplidão, que alcança, de fato, toda a vida e a ação da comunidade
cristã no mundo, chamando-a a ser a comunidade dos discípulos e
missionários de Jesus, como já se proclamou em Aparecida.
O SÃO PAULO – Que se pode esperar da próxima assembleia sinodal?
Professor Catão
– A tarefa dos padres sinodais é de propor ao Papa medidas que lhes
pareçam apropriadas a assegurar a contínua renovação da Igreja visada
pelo Vaticano II.
Mais do que a reforma de alguns aspectos
particulares da vida da Igreja e de sua estrutura, o concílio iniciou,
há cinquenta anos, um processo de renovação, ou aggiornamento da
comunidade católica, em face dos desafios das divisões existentes entre
os cristãos, de modo geral, e da vertiginosa evolução cultural do mundo
secular.
As assembleias sinodais, ordinárias e extraordinárias,
trataram até hoje de pontos específicos da vida da Igreja. As duas
assembleias convocadas por Bento XVI, porém, tinham e têm a ambição de
retomar a perspectiva de conjunto do Vaticano II e tratar da renovação
da Igreja a partir de sua fonte, que é a Palavra de Deus, que nos
comunica a vida, ou o Espírito de Deus. O sínodo vai, por isso, se
debruçar sobre a missão da Igreja no seu conjunto, em vista da
realização do projeto de João 23, de instaurar a Igreja sobre um novo
Pentecostes.
O SÃO PAULO – Nessa perspectiva, que se pode dizer do documento de trabalho?
Professor Catão –
A consulta feita à Igreja, consubstanciada nos Lineamenta ou roteiro de
consulta, já alertava para as grandes orientações acenadas pelo Papa. O
documento de trabalho confirma o eco positivo que o pontificado atual
encontra na Igreja, o que é, certamente, dom do Espírito. Esse
acolhimento positivo ressalta nos quatro capítulos de que se compõe o
documento de trabalho, é confirmado na introdução e reforça as
considerações finais, da conclusão.
O primeiro capítulo fornece a
base e a finalidade da evangelização: levar todos os humanos,
independentemente das divisões de raça, cultura, nacionalidade ou
prática religiosa, a reconhecer em Jesus o salvador da humanidade e a
acolhê-lo, numa relação pessoal de gratidão e de amizade. O segundo
capítulo trata da nova evangelização propriamente dita, fundada no
anúncio e na consolidação da relação pessoal com Jesus e com Deus. O
terceiro capítulo, fundamental, lembra que essa relação pessoal se funda
na fé, entendida não somente como um conjunto de verdades a professar,
mas, radicalmente, como a adesão profunda de nosso coração a Deus, que
comporta o acolhimento de sua Palavra.
Bento XVI, com o apoio de
toda a Igreja, está convencido de que é necessário e urgente restaurar a
fé como adesão pessoal a Deus, por Jesus, no Espírito. Por isso, faz
coincidir o sínodo sobre a evangelização com o cinquentenário do
Vaticano 2º, os vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica
e o Ano da Fé, que teve por bem promulgar, de outubro 2012 a novembro
2013.
Finalmente, o quarto capítulo reúne uma série de sugestões
práticas feitas pelas instâncias consultadas, mostrando de que forma, na
sua diversidade, reclamam ou realizam a renovação que brota da
fidelidade ao primado da Palavra na evangelização.
O SÃO PAULO – Como professor de teologia, o senhor vê algum ponto a ser destacado?
Professor Catão –
Como cristão que vive no mundo, sem responsabilidade pastoral além do
exercício da função de teólogo, chama-me atenção dois aspectos do
documento de trabalho. Em primeiro lugar, o referencial da nova
evangelização, que não é, em primeiro lugar, a instrução sobre a
doutrina da fé, mas a experiência cristã: experiência de Jesus, feita
por Jesus na sua relação com o Pai e comunicada por Jesus ao nos enviar o
seu Espírito. A palavra experiência aparece setenta vezes no documento.
Está praticamente sempre presente. Pode ser considerado o objeto
primeiro da nova evangelização: comunicar a todos os homens o acesso a
Deus, como diz, aliás, a Verbum Domini, que promulga o sínodo de 2008.
Além
disso, destacaria a natural preocupação com a renovação da linguagem da
fé, a necessidade de encontrarmos a forma mais adequada de tornar
acessível a todos os humanos a experiência de Deus vivida e anunciada
por Jesus, a que se referem as muitas passagens do documento de
trabalho.
Nesse sentido, vale lembrar a proposta do Congresso dos
Leigos da Arquidiocese, em 2010, assumida pela Associação Nova
Evangelização (ANEV), que está inaugurando um site específico para se
tornar um verdadeiro laboratório da linguagem da fé. Através desse site,
a ANEV oferece a todos os interessados a possibilidade de colaborar,
discutindo a linguagem da fé, nessa tarefa primordial da nova
evangelização.
O site procurará não só divulgar, mas acompanhar o
mais perto possível os desenvolvimentos da 13ª Assembleia do Sínodo e
discutir as questões que se apresentem nessa área específica. Nós os
convidamos a visitar-nos: www.linguagemdafe.com.br.
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