No Evangelho, Jesus censura impiedosamente os escribas e os fariseus –
homens responsáveis pelo ensino da Escritura e da Lei – porque eram
hipócritas. Arrogavam-se em “mestres” tal como Moisés, para impor
medidas pesadas aos outros, que eles nunca cumpriam. Mas fingiam ser
bons cumpridores da Lei e, para tal, metiam algumas palavras essenciais
dessa Lei em pequenos estojos, que colocavam no braço esquerdo ou na
fronte – as chamadas “filactérias” – e alargavam as pontas dos mantos,
que punham nos ombros para fazerem oração, com bordas muito compridas,
por motivos de vaidade.
Jesus critica, violentamente, a sua pretensão à posse exclusiva da
verdade, a sua incoerência, o seu exibicionismo, a sua insensibilidade
ao amor e à misericórdia. Este texto é um convite a mim e a você, a
todos nós, para que não deixemos que atitudes semelhantes se introduzam
na minha e na sua família e destruam a fraternidade, fundamento da
comunidade.
Jesus nos fala para fazer e observar tudo o que os mestres da Lei e
os fariseus dizem, pois eles têm bastante conhecimento da Palavra de
Deus e falam com propriedade sobre o que deve ser feito de acordo com a
vontade do Pai. Mas Jesus conhece o coração de cada pessoa e, com
coerência, nos pede que sigamos os ensinamentos deles, mas que não
imitemos as suas atitudes, pois ensinamentos e atitudes se contradizem.
Quando ouvirmos alguém nos falando o que deve ser feito de bom, não
devemos deixar de fazê-lo só porque quem falou não tem “moral” ou
“credibilidade” sobre determinada atitude.
“Olhando pelo lado de quem fala…” Proferir este famoso
ditado cai muito bem em diversas situações onde queremos nos livrar da
responsabilidade sobre o que falamos. É muito fácil dizer aos outros o
que fazer e de que forma fazer; mostrar os erros cometidos mesmo quando
eles estão presentes em nós mesmos. O interessante é que sempre falamos
com propriedade, pois sabemos realmente que essa ou aquela situação são
erradas e que devemos agir de um modo diferente. Entretanto, nós não
corrigimos a nós mesmos. E dar testemunho do que falamos torna-se
difícil.
Quando estamos servindo a Deus é necessário darmos testemunhos fiéis
de nossas palavras, para que as pessoas que nos seguem se reflitam no
nosso modo de agir, já que “uma atitude vale mais que mil palavras”. Se
você diz ao seu filho: “Não beba! Isto vai lhe fazer mal”. E,
no dia seguinte, está com um copo de bebida na mão, seu filho não dará
credibilidade ao que você falou, mas no exemplo que você deu!
Ao ler o Evangelho de hoje nos lembramos logo do famoso ditado popular que diz: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.
É fundamental nos colocarmos naquilo que fazemos e não naquilo que
dizemos. Até porque as nossas obras dirão aquilo que nós somos. “Se vos amardes uns aos outros o mundo vos reconhecerá que sois meus discípulos” - disse Jesus.
Pessoas que “muito falam e pouco fazem” criam uma capa de ilusões.
Fazem com que as outras pessoas pensem que ela é “o que diz ser” e que
ela “faz o que diz fazer”. Mas, no fundo, esta pessoa é vazia por
dentro. Pois não tem nada de verdadeiro na vida dela, tudo não passa de
palavras soltas ao vento. Querem aparecer, serem reconhecidas
publicamente, mas nem elas mesmas se conhecem. Desejam ser chamadas de
“mestres” mas, nisto, Jesus nos adverte: não existe outro mestre, pai ou
guia, que não seja o próprio Deus.
Cristo também nos deixa uma mensagem que nos fará verdadeiramente importantes para Deus: “O maior dentre vós deve ser aquele que vos serve. Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”.
Padre Bantu Mendonça
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