Todo aquele intercâmbio de vida, todo aquele diálogo de amor à luz do
Espírito Santo, leva Maria a um canto de ação de graças e de louvor,
inspirado no canto de Ana, a mãe de Samuel (cf. Sm 2,1-10). É que tanto
lá como aqui, se realimenta a esperança dos pobres por uma intervenção
de Deus Salvador. Jesus, de fato, significa “Deus salva”.
A primeira parte do canto apresenta o louvor e a santificação do nome
de Deus por parte de Maria. Na verdade, Deus pôs Seu olhar sobre aquela
humilde jovem de Nazaré, fazendo grandes coisas em seu favor. Deus
exalta sua humildade, de tal modo que todas as gerações têm a obrigação
de chamar a Mãe de Deus de “Bem-Aventurada”, ou seja, de santa.
Assim, Jesus é concebido como a misericórdia de Deus em ação,
trazendo vida para todos, restaurando a fraternidade entre os filhos de
Deus.
Ao descrever a visita de Maria a Isabel, Lucas quer mostrar Maria
como um modelo de solidariedade, da comunidade fiel que atende a todos
os irmãos necessitados. O serviço de Maria a Deus se concretiza no
serviço aos irmãos necessitados. Descrevendo a visita de Maria a Isabel,
Lucas quer ensinar como as pequenas comunidades devem fazer para
transformar a visita de Deus em serviço aos irmãos e irmãs. Nossa
acolhida à Palavra de Deus concretiza-se no serviço concreto às pessoas
mais carentes.
Lucas acentua a prontidão de Maria em atender ao apelo de Deus
contido nas palavras do anjo. O anjo tinha lhe falado da gravidez de
Isabel. Imediatamente, Maria sai de sua casa para se colocar a serviço
de Isabel. De Nazaré até as montanhas de Judá são mais de cem
quilômetros de caminhada. Tal atitude de Maria frente ao apelo da
Palavra quer nos ensinar que não devemos nos fechar sobre nós mesmos,
atendendo apenas as pessoas que nos são conhecidas ou que estão mais
perto de nós. Devemos sair de casa, e estar bem atentos às necessidades
concretas das pessoas e procurar ajudar na medida de nossas capacidades e
possibilidades.
Até pouco tempo Maria levava uma vida “normal”; porém, depois do
grande anúncio tudo muda; só Deus sabe o que passou em seus pensamentos,
talvez muitas preocupações diante de um fato tão grandioso, do qual
estava participando diretamente. Porém, uma coisa é certa: ela confia no
Senhor. Não ficou presa no fato em si, mas põe-se, como nos diz a
leitura, a caminho.
No diálogo que teve com o anjo, ‘na Anunciação’, Maria fica sabendo que também Isabel foi agraciada milagrosamente: “Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela que chamavam de estéril”. Maria vai visitar sua prima e, ao vê-la, confirma-se o que anjo já lhe havia falado.
Quando Isabel ouviu a saudação de Maria a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo.
Ao chegar na casa de Isabel, após uma longa viagem de pouco mais de
cem quilômetros, as duas mulheres se encontram, e não só elas, mas
também os frutos da bondade e do amor de Deus. Aqui aproveito para abrir
um pequeno parêntese: Maria estava com poucos dias de gestação, e ainda
assim o seu filho foi percebido por Isabel, e o ainda não nascido João
Batista. Como é que podem alguns ainda colocar em dúvida se o feto não
constitui ainda um ser humano, capaz de reconhecer as grandes maravilhas
de Deus, mesmo que estes sejam de poucos centímetros?
Maria foi a primeira anunciadora da Boa Nova. Junto com ela, leva a
mesma alegria recebida do anjo, leva também o Cristo e o Espírito Santo.
Como não querer bem a uma mulher que soube realizar a vontade do Pai?
Maria é aquela que conduz Jesus até aquela família. Mais tarde, será ela
também que pede a Jesus para que ajude os noivos nas bodas de Caná; e
ainda hoje ela continua atenta às nossas necessidades, com seu olhar
materno.
Diante de tudo que recebeu, ela não se exalta, mas bendiz o Senhor: “Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus meu Salvador”.
Este canto, que Lucas colocou nos lábios de Maria, relembra o que Deus
fez em Maria, a Serva do Senhor. Mas recorda também o que Deus fez pelos
pobres através de Jesus. Ele inverte as falsas situações humanas no
campo religioso, político e social.
“Pois Sua misericórdia perdura para sempre para os que o temem.
Aos que não o temem – os orgulhosos – Ele dispersou com a força do seu
braço. Ele derrubou do trono os poderosos. Quanto aos humildes,
submissos e oprimidos, Ele os exaltou. Ele cumulou de bens os famintos e
despediu os ricos de mãos vazias”. Deixemo-nos visitar por Deus!
Mas estejamos atentos com a mesma sensibilidade de Isabel e João
Batista. Que possamos reconhecê-Lo, acolhê-Lo e com Ele alegrar-se.
Pai, conduza-me pelos caminhos de Maria, tua fiel servidora, cuja
vida se consumou, sendo exaltada por Ti. Que, como Maria, eu saiba me
preparar para a comunhão plena contigo.
Padre Bantu Mendonça
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