No dia 22 de fevereiro a liturgia
nos convida a celebrar a Festa da Cátedra de Pedro. Mais do que uma
simples "cadeira" ou mesmo um "trono", a palavra "cátedra" indica a
autoridade para ensinar.
Quando na Bíblia se diz que alguém
"sentou e começou a ensinar" significa que seu ensino é repleto de
fundamento e autoridade. Foi assim, por exemplo, no conhecido Sermão da
Montanha: "Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e
seus discípulos aproximaram-se dele" (Mt 5,1). Até na linguagem comum se
afirma que um professor eficiente é um "catedrático". A igreja onde
fica a cátedra do bispo é chamada de "catedral".
Quando a Igreja
Católica celebra esta festa, reconhece que entre os doze apóstolos houve
um que ocupou o primeiro lugar e que recebeu a missão de confirmar os
irmãos na fé (cf. Lc 22, 31-32). Vemos no Evangelho que Pedro sempre
encabeça a lista dos apóstolos. Além disso, ele fala com Jesus em nome
dos doze, como está no evangelho escolhido para a Missa deste dia:
Mateus 16,13-19.
O mestre convida os discípulos para ir até uma
região montanhosa chamada "Cesaréia de Felipe". Ali faz uma pergunta
intrigante: "Quem dizem por aí que Eu Sou"? As respostas são as mais
variadas. Jesus, então, vai além. Pergunta: "E para vocês, quem Eu Sou?"
Certamente houve um silêncio e uma troca silenciosa de olhares. Todos
se perguntavam: quem terá coragem de dar uma resposta tão pessoal?! Foi Pedro quem tomou a palavra pronunciou a profissão de fé que fez dele o primeiro Papa do Cristianismo: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!"
Conhecemos o que Jesus disse: "Feliz
és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te
revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do
inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos
céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus." Foi isso que deu a Pedro a sua “cátedra”, ou seja, autoridade.
Neste
ano vivemos esta festa de uma maneira totalmente diferente e
inesperada. No dia 11 de fevereiro o Papa Bento XVI, surpreendeu o mundo
anunciando a sua renúncia com
as seguintes palavras pronunciadas em latim: "[...] a partir de 28 de
Fevereiro de 2013, às 20 horas, a sede de Roma, a Cátedra de São Pedro,
ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o
Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice".
Muito se
especulou sobre o motivo de sua renúncia. A melhor explicação, porém,
continua sendo a do próprio Papa: “Depois de ter examinado repetidamente
a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas
forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer
adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este
ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com
as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando.
Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por
questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca
de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do
corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi
diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha
incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado."
Muito mais do que alinhar-se à avalanche de especulações que a imprensa tem feito em torno da renúncia do Papa, o católico praticante que ama a sua Igreja, neste momento está em comunhão de prece com o Santo Padre.
É um momento intenso e tenso, mas Bento XVI disse recentemente que pode
sentir a prece e o carinho do povo de Deus "quase fisicamente". É o
mistério da Igreja que nos unifica no Corpo Místico de Cristo.
No dia 22 de fevereiro de 2006, o próprio Bento XVI fez uma reflexão sobre o significado da "Cátedra de Pedro".
Lembrou tratar-se de uma tradição muito antiga, vivida em Roma deste o
século IV. Antes disso, disse o Papa, a “cátedra” foi no Cenáculo, em
Jerusalém; depois foi na cidade de Antioquia, na hoje Turquia, onde
Pedro foi o primeiro bispo; somente depois a “cátedra” foi transferida
para Roma que recebeu a missão de congregar todos os povos da terra.
O
Papa evocou numerosos testemunhos de santos e doutores da Igreja para
explicar o significado espiritual da “cátedra de Pedro”. Um deles, São
Jerônimo, escreve assim: “Decidi consultar a cátedra de Pedro, onde se
encontra aquela fé que a boca de um Apóstolo exaltou; agora venho pedir
um alimento para a minha alma ali, onde outrora recebi a veste de
Cristo. Não busco outro primado, a não ser o de Cristo; por isso,
ponho-me em comunhão com a tua bem-aventurança, ou seja, com a cátedra
de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja” (Cartas I,
15, 1-2). O Papa terminou esta catequese pedindo que todos rezassem pelo
seu ministério de sucessor de Pedro: “[...] invocai o Espírito Santo a
fim de que sustente sempre com a sua luz e a sua força o meu serviço
quotidiano a toda a Igreja. Por isto, bem como pela vossa atenção
devota, agradeço-vos de coração.”
Atendamos a este pedido de Bento XVI, particularmente nesta semana intensa que ele e todos nós viveremos.
Neste domingo, dia 24 de fevereiro, ele rezará o último "Angelus" de
seu pontificado. Na quarta-feira, dia 27, presidirá a última audiência
pública para milhares de peregrinos. No dia 28, pela manhã, saudará
pessoalmente todos os cadeais presentes em Roma, sem discursar e, às
17h, irá para seu retiro em Castel Gandolfo, onde ficará até que seja
eleito o novo Papa. Neste dia, às 20h, Bento XVI não será mais Papa,
viverá silenciosa e intensamente o ministério de intercessor.
Pe. Joãozinho, scj
Teólogo, escritor e compositor
Professor na Faculdade Dehoniana
Twitter: @padrejoaozinho
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